Evento em que empresário morreu ao bater BMW não tinha autorização, diz Federação de Automobilismo de São Paulo
29/04/2025
(Foto: Reprodução) FASP publicou comunicado e trata Driver Brasil, organizadora da prova, como "desconhecida nos meios automobilísticos". Empresa alegou que Código de Trânsito Brasileiro prevê autorização apenas em provas em vias abertas, e federação cita obrigação prevista no Código Desportivo de Automobilismo. A BMW M3 usada pelo empresário sul-mato-grossense
Nathan Zanin / Arquivo Pessoal
O evento Driver Top Speed 2025, em que um acidente causou a morte do empresário Wilson Coelho Neto, de 48 anos, não tinha autorização da Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp) para acontecer. A entidade publicou um comunicado sobre o assunto. (veja a íntegra abaixo)
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O sul-mato-grossense morreu no último sábado (26). A prova em que participava acontecia no aeródromo da Embraer, em Gavião Peixoto. Ele pilotava uma BMW M3, bateu em outros dois veículos e não resistiu.
As causas da batida e a velocidade alcançada por Neto quando tudo aconteceu ainda não foram esclarecidas. O acidente será investigado pela Polícia Civil.
Federação de Automobilismo de SP não autorizou evento em que empresário morreu em BMW
No comunicado, a FASP citou que o Driver Top Speed 2025 não faz parte do calendário da entidade. Ainda considerou a Driver Brasil, organizadora da competição, como "desconhecida nos meios automobilísticos, quer pela federação, quer pela Confederação Brasileira de Automobilismo".
"Esses eventos são elaborados sem qualquer segurança e por pessoas desabilitadas. Só não mencionam que estão lá para faturarem em cima dos desavisados", completou a FASP.
No estatuto, a federação, que é filiada à Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), informa ser a "entidade máxima de administração estadual do dirigente desporto automobilístico legal do desporto no estado".
Alegações
O g1 pediu um posicionamento à Driver Brasil e à Embraer, que cedeu a pista do aeródromo para o evento.
A Driver Brasil enviou nota em que disse ser "importante esclarecer que a Driver tem 18 anos de atuação e é reconhecida por sua seriedade na organização de eventos de automobilismo, com participantes recorrentes e padrões de segurança".
A empresa acrescentou que "o artigo 67, inciso I, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que apenas provas ou competições desportivas em vias abertas devem ser autorizadas pela respectiva confederação desportiva".
Diante da resposta, a reportagem entrou em contato com a Fasp, que alegou que a versão da empresa é improcedente. E citou que o Código Desportivo do Automobilismo, da CBA, prevê que competições estaduais e municipais sejam organizadas ou supervisionadas por federações filiadas.
Já a assessoria de imprensa da Embraer manteve o mesmo posicionamento enviado no dia do acidente. Lamentou o falecimento e informou que "o evento automotivo independente é organizado pela Driver Brasil no aeródromo da companhia em Gavião Peixoto".
A Embraer também se colocou à disposição das autoridades competentes para apoiar a investigação dos fatos, mas não se pronunciou especificamente sobre o comunicado publicado pela Fasp.
O g1 também questionou a CBA a respeito do evento e aguarda resposta.
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Campeão em 2024
Neto havia sido campeão de duas provas da edição passada do mesmo evento, em 2024.
Com a mesma BMW M3 usada no Driver Top Speed 2025, ele faturou títulos em uma milha (1,6 km) e duas milhas (3,2 km). Na competição, os veículos de alta potência arrancam em linha reta. (Entenda o regulamento abaixo).
Na edição de 2024, Neto atingiu a velocidade máxima de 312 km/h na prova de uma milha e 341,6 km/h na prova de duas milhas. As informações foram confirmadas ao g1 pela própria Driver Brasil no domingo (27). O empresário participava desde 2017.
Comoção e homenagens
Wilson Coelho Neto, de 48 anos, morreu depois de sofrer acidente em competição de carros esportivos
Arquivo Pessoal e Nathan Zanin
A morte do empresário, muito conhecido em Campo Grande (MS), causou extrema comoção nas redes sociais, com centenas de mensagens e homenagens publicadas.
A família de Neto é ligada sobretudo ao agronegócio brasileiro. O bisavô dele era Laucídio Coelho, figura bastante conhecida na história da pecuária nacional.
O deputado estadual Jamilson Name publicou uma nota de pesar lembrando que o sul-mato-grossense "sempre foi reconhecido pelo seu espírito empreendedor e pela dedicação à família e aos amigos".
O cantor Mariano, que ficou conhecido pela música 'Camaro Amarelo', na dupla com Munhoz, conhecia Neto e lamentou a tragédia nas redes sociais. "Descanse em paz, meu amigo", escreveu.
Velocidade nas veias
O g1 conversou com Nilson Junior, secretário parlamentar e amigo do empresário há mais de 30 anos. Ele contou que Neto era apaixonado por velocidade pelo menos desde os 18 anos, período em que tinha um Ford Maverick.
"Aos 18, 19 anos, também ganhou sua primeira camioneta, se não me engano uma F1000 verde. Logo comprou uma BMW M5... Aí não parou mais, CBR 900, corríamos 'arrancadão' de moto acima de 900 cilindradas. Fomos pioneiros, eu o acompanhava", recordou.
Segundo Nilson, o amigo havia sido o campeão das categorias uma e duas milhas da edição 2024 do Driver Top Speed Brasil, em Gavião Peixoto.
O secretário parlamentar foi ao velório e sepultamento, neste domingo (27), no Cemitério Parque das Primaveras, e tem lembranças de uma pessoa "humilde, educada, com uma família linda e sempre alegre".
Nilson e Neto eram amigos de longa data
Arquivo Pessoal
A sogra de Neto também fez publicação nas redes sociais. "Seu legado de amor a Deus e sabedoria permanecerão para sempre. Te amo muito, obrigada por tudo", escreveu Lú Fontoura.
Neto era casado e deixa dois filhos.
O acidente
Quando o acidente com Neto aconteceu, a pista estava molhada, mas a Driver Brasil alegou que "o evento adota rígidos padrões de segurança" e que "todos os pilotos assinam um termo de responsabilidade, cientes dos riscos associados à velocidade, mesmo com os veículos sendo bem seguros".
A organizadora informou que houve atendimento imediato da UTI móvel. Com a morte constatada, o evento foi encerrado imediatamente, acrescentou.
Ainda conforme a Driver Brasil, os pilotos dos outros carros, de 42 e 43 anos, sofreram apenas ferimentos leves. (veja nota completa abaixo)
À EPTV, afiliada da TV Globo, a Embraer lamentou o falecimento e informou que "o evento automotivo independente é organizado pela Driver Brasil no aeródromo da companhia em Gavião Peixoto" e se colocou à disposição das autoridades competentes para apoiar a investigação dos fatos.
Neto estava inscrito em duas provas do evento no interior paulista: uma milha (1,6 km) e duas milhas (3,2 km), na categoria nomeada como "traseira turbo turismo".
O empresário Wilson Coelho Neto, de Mato Grosso do Sul, morreu aos 48 anos em acidente com BMW em Gavião Peixoto, SP
Arquivo pessoal
A competição
O evento é composto por provas de velocidade nas distâncias de meia milha (804 metros), uma milha (1,6 km) e duas milhas (3,2 km).
De acordo com o regulamento da competição, que acontece desde 2009, "o piloto larga com o carro parado e ao final da puxada serão registradas as velocidades máximas atingidas nas respectivas distâncias".
A edição deste sábado usou as dependências do aeródromo da Embraer, em Gavião Peixoto. A extensão da pista é de 4.967 metros.
Nas informações do evento, consta que havia previsão de prêmio para os três primeiros colocados de cada categoria. Também é informado sobre uma certificação, chamada de "200 Miles Driver Club", para pilotos que atingirem velocidade superior a 321,8 km/h.
Veja a íntegra da nota da Federação de Automobilismo de São Paulo:
A FEDERAÇÃO DE AUTOMOBILISMO DE SÃO PAULO – FASP, tomou ciência do trágico acidente ocorrido na pista do aeroporto de Gavião Peixoto que cita a Embraer como responsável pelo mesmo, vem ALERTAR que a mencionada "prova” não faz parte do calendário FASP e não tinha nenhuma autorização para a execução da mesma, cuja responsabilidade deve ser apurada pelas autoridades competentes tendo em vista o falecimento do sr, WILSON COELHO NETO em evento organizado pela “DRIVER BRASIL”, desconhecida nos meios automobilísticos, quer pela Federação, quer pela Confederação Brasileira de Automobilismo.
Lamentavelmente as autoridades desconhecem a legislação desportiva bem como o Código Brasileiro de Transito, onde em ambos se encontra a proibição de organização de eventos sem a supervisão de uma Federação ou da Confederação Brasileira de Automobilismo. Esses eventos são elaborados sem qualquer segurança e por pessoas desabilitadas haja visto que na ocasião do acidente haviam dois veículos indo e um voltando e conforme noticiário, E USADO O MÁXIMO DE SEGURANÇA NOS EVENTOS, SÓ NÃO MENCIONAM QUE ESTÃO LÁ PARA FATURAREM EM CIMA DOS DESAVISADOS.
À FAMILIA ENLUTADA OS PESAMES DESTA FEDERAÇÃO
Veja a íntegra da nota da organização do evento:
É com grande pesar que informamos sobre o falecimento de Wilson Araujo Coelho, participante do "Driver Top Speed 2025", durante o evento na pista da Embraer GPX em Gavião Peixoto, SP. Após completar uma volta, Wilson atingiu outro carro. Apesar do atendimento imediato da UTI móvel, ele não resistiu aos ferimentos. O evento foi encerrado imediatamente.
Wilson Araújo Coelho tinha 48 anos. Os outros envolvidos no acidente receberam atendimento imediato.
Gustavo Paulo De Freitas Valente de 42 anos e Andre Capelazo Fernandes de 43 anos sofreram ferimentos leves.
O evento adota rígidos padrões de segurança. O Driver Top Speed ocorre desde 2009 no local.
Reforçamos que todos os pilotos assinam um termo de responsabilidade, cientes dos riscos associados à velocidade, mesmo com os veículos sendo bem seguros. Wilson estava pilotando uma BMW.
Nossos pensamentos estão com a família e amigos de Wilson neste momento difícil. Agradecemos a compreensão de todos.
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